details-image set, 23 2025

Projeto exuberante ou invasão visual?

Quando Tomás Taveira decidiu aplicar seu estilo pós‑moderno em projetos residenciais, a expectativa era de casas marcantes, mas poucos imaginaram o nível de reação que provocariam. As fachadas, revestidas em tons neon, cremes escarlates e azuis elétricos, chamam atenção dos passantes como obras de arte ao ar livre. Para os admiradores, a ousadia quebra a mesmice dos condomínios padronizados e revitaliza áreas antes monótonas.

Entretanto, a mesma explosão cromática tem sido alvo de críticas severas de moradores vizinhos e entidades de preservação ambiental. Segundo a associação de residentes da região de Almada, as cores intensas contrastam brutalmente com a vegetação nativa, criando um choque visual que “destrói a identidade paisagística local”. Muitos relatam que as casas interferem no batimento natural da luz, prejudicando a flora ao refletir calor excessivo.

Reações institucionais e possíveis soluções

Municípios como Lisboa e Braga já abriram processos para avaliar a conformidade das obras com os códigos de uso do solo. As secretarias de urbanismo solicitaram que os arquitetos apresentem estudos de impacto visual e ambiental, exigindo ajustes na paleta de cores ou a inclusão de áreas verdes compensatórias. Em alguns casos, foram impostas restrições que limitam a aplicação de tintas fluorescentes a até 20% da superfície externa.

Especialistas em arquitetura sustentável defendem que a criatividade não precisa sacrificar o meio ambiente. Propõem, por exemplo, o uso de materiais refletivos que reduzem a absorção de calor, ou a integração de painéis de vegetação nas fachadas para criar “paredes verdes” que harmonizem o design com o entorno. Taveira, por sua vez, argumenta que as críticas ignoram a intenção de criar marcos culturais que inspiram a cidade.

Enquanto o debate se desenrola, os proprietários das casas envolvidas aguardam decisões que possam definir se suas residências permanecerão como símbolos de inovação ou serão obrigadas a se adaptar às exigências de preservação paisagística. O caso ressuscita uma questão maior: até que ponto a liberdade criativa do arquiteto pode coexistir com a responsabilidade social e ambiental na construção contemporânea?