Rubens Ewald Filho fala de homenagem no Roxy e Oscar 2013
O “Homem do Oscar”, como é conhecido, comentará novamente a cerimônia da principal premiação do cinema em 24 de fevereiro. Santista de nascimento e coração, Rubens Ewald Filho é um apaixonado por cinema e pela cidade. E, nesta quinta-feira, 31 de janeiro, receberá sua estrela na Calçada da Fama do Cine Roxy, às 19h. Na ocasião, as demais placas que haviam sido roubadas em 2012 serão recolocadas. Depois da homenagem, tem pré-estreia para convidados de “O Lado Bom da Vida”, oito vezes indicado ao prêmio e o qual ele abordará junto à plateia logo após a sessão.
Ainda lembro, era 2008. Iniciava meus passos na crítica cinematográfica e, no anseio de demonstrar meu trabalho, enviava vários emails ao Rubens. Até que, um dia, chegou a resposta: ele passava seu número celular e pedia que ligasse. Fiz contato. Ele estava precisando de um novo assistente e marcamos um encontro. Pegou-me de carro e subimos a serra rumo à sua casa em Cotia. No caminho, a surpresa: colocou um CD com músicas de filmes que concorreram ao Oscar do ano anterior e pediu para que eu adivinhasse a quais longas aquelas canções pertenciam. Confesso, algumas respondi por eliminação, tipo: “essa tem clima de faroeste, então deve ser do “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”. Parece que deu certo e tive a honra de trabalhar ao lado dele por um ano e meio. O melhor aprendizado que poderia ter: Rubens possui um conhecimento profundo e extenso sobre cinema, da produção, realização à distribuição, história dos filmes, premiações, biografias de cineastas, atores, etc. Tudo. Nunca vi ou conheci quem tenha um conhecimento assim e memória tão incrível.
Não à toa, é o principal nome da crítica cinematográfica do país, Rubinho, como é chamado pelos amigos, falou exclusivamente ao site sobre as lembranças que tem de Santos, da infância, a relação entre os santistas e o cinema, comentou as probabilidades para o Oscar deste ano, entre outros assuntos. Uma homenagem mais que merecida. Necessária.
Quais suas principais lembranças de Santos?
Só saí da cidade para morar em São Paulo quando já tinha me formado, com 22 anos. Ou seja, fiquei muito tempo em Santos, todos os anos de formação. E, mesmo assim, todo fim de semana eu retornava à cidade, hábito que só quebrei quando meus pais morreram. Continuei a ser um santista total durante muitos anos, o que permitiu minha fase de Clube XV e assim por diante. Hoje, cada vez que desço a Avenida Ana Costa ou subo a Washington Luís, vou tão devagar por que fico lembrando de como a cidade mudou, o que existia antes lá. Cada canto tem sua lembrança, uma nostalgia.
Sempre digo que não seria o mesmo se não tivesse nascido e crescido em Santos. Por que, para cinema, sempre foi uma cidade especial, com inúmeras opções. Sou do tempo da matinê baby do Cine Atlântico, aquele na Praça Independência, onde parava o bonde. Depois havia os cinemas de bairro, em todos e muitos. Era possível ir a pé, já que era acessível, barato e, às vezes, com sessões duplas. E, se gostasse do filme no Lançador, depois podia ir seguindo a trajetória de bairro em bairro, e com cinema japonês uma vez por semana, acho que quarta-feira à noite, no São José. O município é um ótimo lugar para alguém apaixonado por cinema viver e se formar, sem esquecer as sessões de arte do Clube de Cinema e depois na Cinemateca. Aquelas uma vez por mês no antigo Roxy foram marcantes e de grande sucesso. Santos era um dos melhores lugares do país para ver cinema de tudo que é tipo e até hoje ainda me parece manter a posição de ser a cidade que não é capital com mais salas, apesar dos pesares. O resto vai indo aos poucos.
Como enxerga a relação do santista com o cinema?
Não sei dizer mais hoje em dia: tudo mudou tanto e tão rápido. Acredito que seja mais casual. Mas é importante lembrar que, em férias, Santos ainda é o lugar que oferece melhores atrações para crianças e em dias de chuva. Guarujá fazia um festival de reprises, mas hoje cresceu demais e deixou de ser aquele vilarejo. Suponho que o santista sempre gostou muito de cinema.
Acredita ser o momento certo para ser homenageado?
Não sei dizer. Pergunto se existe algum momento errado para uma homenagem. Acho que não. Nunca tive a experiência da Calçada em nenhum outro lugar. O que já é bacana. Normalmente você nunca é “profeta” em sua própria terra. Normal. Mas eu confesso que sempre gostei e continuo a gostar da cidade. Só não venho mais por que venderam o apartamento que eu tinha e não tenho mais a mesma facilidade. E agora tudo ficou caro. Santos virou luxo, mas só a desculpa para retornar já seria o bastante. Tomara que possa rever as pessoas amigas. Foi uma boa surpresa o convite e o aceitei com prazer e fiquei muito honrado.
“O Lado Bom da Vida”, que você comentará na sala do Roxy logo depois da sessão, é seu preferido entre os indicados desse ano?
Não sei dizer se é o preferido, porém é um dos preferidos, com certeza. O padrão do Oscar este ano está muito alto. Gosto de vários: “Lincoln”, “As Aventuras de Pi”, “Argo”, que está virando o favorito. No entanto, o que mais me surpreendeu, sem dúvida, é “O Lado Bom da Vida”: por ser diferente, original, ter um elenco em que não botava fé e está todo mundo ótimo – Jennifer Lawrence deve ser a próxima grande estrela. O filme mexe com tema importante – doença mental -, só que é sempre uma comédia romântica engraçada, divertida e movimentada, até trazendo Robert De Niro de volta à forma! Gosto do filme e também muito do título.
Depois dos prêmios do SAG (Sindicato dos Atores) e do Sindicato dos Produtores, no domingo, 27 de janeiro, “Argo” é oficialmente o favorito. Venceu “Lincoln” e tirou o lugar dele. Nem o Spielberg foi à festa (do SAG), já sabendo que isso iria rolar. A Academia que está errando muito deixou “Argo” de fora na categoria Melhor Diretor. Estava na cara que era o filme que o americano queria ver. O longa é uma vitória da inteligência sobre a força bruta, de Hollywood se louvando como eles adoram.
Falando em Melhor Direção, quem você acha que leva a estatueta?
Olha, falta quase um mês. Então, qualquer palpite está sujeito a erro e pode mudar. Não sei se o Spielberg levaria não. Talvez David O. Russell (de “O Lado Bom da Vida” e já indicado por “O Vencedor” dois anos atrás). Não esqueça que ele fez o filme para o filho dele, que tem transtorno mental. Essas coisas funcionam. E parece que ele, que era um chato, mudou, está humilde e, por isso, melhor diretor. Muita água vai passar debaixo da ponte.
Cite seus cinco filmes favoritos da história do Oscar.
Sem ordem, conforme fui lembrando: “West Side Story”, “Lawrence da Árabia”, “A Malvada”, “Aurora”. Xiii… Às vezes é mais fácil lembrar dos que não ganharam: “Tubarão”, “Quanto Mais Quente Melhor”, “Um Lugar ao Sol”, “Crepúsculo dos Deuses”…
Qual a cerimônia que mais lhe marcou?
Se não me engano, a de 1997, quando voltei à Rede Globo para fazer Oscar e Robin Williams ganhou (ator coadjuvante, por “Gênio Indomável”). Faltou o som e eu tive que adivinhar o nome de todos. Não foi fácil e acertei todos. Até o Arnaldo Jabor elogiou.
Quer deixar um recado para o público santista?
Estou consciente que a Calçada da Fama não é o Chinese Theatre. Acho até pra mim muito melhor e muito mais significativa: na minha terra, não tem preço. Obrigado realmente Toninho Campos (empresário responsável pelo Cine Roxy). Fico muito agradecido. Se os amigos puderem comparecer, ainda melhor.